A arte de sapateiro faz parte da família Valentim há quase um século. Pedro Valentim era ainda criança quando aprendeu a fazer sapatos com o pai, que, por sua vez, também já tinha aprendido com um tio. aos 57 anos, o artesão conta com a ajuda dos dois filhos, Pedro e André, que garantem dar continuidade ao negócio familiar.
É com paixão que Pedro Lúcio
Valentim fala da arte que contagiou a família... “Antigamente, o meu pai
dedicava-se à arte, fazendo calçado para trabalhadores rurais. E aos domingos à
tarde, enquanto ficávamos em casa com a minha mãe, ele ia de porta em porta
levar as botas camponesas aos clientes”. E é entre sorrisos que recorda os
tempos de menino: “Quando saía da escola primária, ia para a oficina do meu pai
ajudá-lo. Fazia linhas, engraxava sapatos e fazia todas aquelas tarefas mais
simples que podiam ser executadas por uma criança de 7 ou 8 anos. E ele lá me
dava dinheiro para ir comprar uns bombozinhos”.
Há cerca de oito anos, a
família Valentim decidiu fixar-se no Cartaxo. E quando os dois filhos de Pedro
– Pedro e André – se juntaram ao negócio familiar, o trabalho intensificou-se.“Em
conjunto com os meus filhos, de forma muito empenhada, dou continuidade a esta
arte tão bonita que herdámos da família. O facto deles trabalharem comigo não
foi uma imposição, mas, sim, um pedido deles. Eles também têm gosto à arte e
não tenho dúvidas disso porque se assim não fosse, as coisas não corriam bem”.
Aos 57 anos, o artesão
garante que não se arrepende da profissão que escolheu: “Não estou nada
arrependido, muito pelo contrário, estou muito feliz! Apesar de também ter
passado pela agricultura, a profissão de sapateiro foi a que mais me fascinou e
continua a fascinar. Não houve nada que me fizesse mudar de ideias. E quando se
trabalha com amor e paixão, tudo corre bem”.
Pelas mãos dos membros da
família Valentim já passaram inúmeros pares de sapatos dos mais variados modelos.
“O artesão é muito complicado… Está sempre a mudar. [risos] Mas isto não é
nenhuma fábrica, por isso, a riqueza da nossa arte está, precisamente, na
diversidade de modelos que podemos fazer. E já temos calçado em todo o mundo!
Posso dizer que não há país que não tenho memória de não ter enviado alguma
encomenda… Desde do Japão, Austrália, Canadá, Brasil… Mas também acho que o
sucesso se deve ao facto de trabalharmos com grande entusiasmo e não
praticarmos preços muito elevados”.
É com um enorme orgulho
que o artesão fala dos sapatos que o ‘Calçado Artesanal Valentim’ produz: “Hoje
fazemos calçado igual ao que o meu pai fazia, mas para ranchos folclóricos,
grupos etnográficos, entre outros. Continuamos a trabalhar com matérias-primas
de qualidade tais como couro, vegetais, forros e peles de primeira qualidade e
também cortiça. O conjunto de todas estas matérias-primas permite-nos
apresentar um produto final de excelente qualidade, com conforto e design
original. Além de que todos estes produtos têm origem nacional. Nunca nos
cansamos de falar do nosso produto aos clientes; Temos, e devemos explicar, que
se tratam de produtos diferentes e de qualidade. Hoje em dia é impensável um
par de sandálias durar dois ou três anos e as nossas duram! É normal, e
aceitável, que as pessoas comprem calçado conforme os seus rendimentos, mas a
verdade é que por vezes mais vale dar um bocadinho mais e ter um par de sapatos
que dure”.
Com a ajuda dos filhos,
Pedro decidiu expandir o negócio e começou a percorrer Portugal de lés a lés,
vendendo sapatos em feiras e mercados. “Também nos dedicamos a feiras de
artesanato e/ou medievais, de norte a sul do país, onde trabalhamos ao vivo
fazendo as delícias dos apreciadores da arte e não só… Elaboramos várias obras
tais como: calçado feminino, sandálias, chinelos, malas, cintos entre outros”,
conta.
Além das feiras, a
família Valentim tem ainda um espaço físico, onde recebe os clientes e dá vazão
às encomendas que chegam de toda a parte do país e até do estrangeiro! “Temos uma
loja aberta ao público no Cartaxo, onde fazemos ainda todo o tipo de reparação
de calçado e damos assistência aos sapatos que vendemos. Ou seja, caso os
clientes tenham algum percalço, podem sempre enviar-nos os sapatos para a loja
e nós reparamos e enviamos de volta por correio. Depois contamos ainda com o
talento da minha nora Vânia [esposa do filho mais velho, Pedro] que trabalha em piro-gravura. Ela entusiasmou-se com a arte da família e tornou-se uma artesã
com grande talento”.
A arte de trabalhar o
couro sempre esteve presente nesta família. “Hoje, quase cem anos depois, já
vamos na terceira geração que se dedica a esta arte”, conta Pedro com alegria,
referindo que até já pensou como vai assinalar este marco: “Em 2017, quando
comemorarmos 100 anos de artesanato Valentim, vamos fazer uma grande festa”.
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